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Primeiramente, jogava na linha, mas, seguindo rigidamente as regras do passado onde os pernas de pau quando não davam certo, logo encostavam na ponta esquerda ou iam para o gol. Portanto, acabou sendo goleiro e se firmando como titular no gol do Juvenil Paulista da Vila Mathias, seu primeiro clube de várzea. O clube era presidido por um alto funcionário da Cia. Docas, Sr. Adel Evêncio de Carvalho, que por sinal estou pesquisando para incluí-lo na história dos clubes varzeanos.
Como era muito magro e muito ágil, acabou sendo apelidado de “Graveto Voador” por um torcedor, quando disputava uma partida contra a A.A. Portuguesa Santista.
Agradava de tal maneira a todos que o viam jogar, que acabou sendo convidado pelo carismático treinador Salu para jogar no juvenil do Santos FC, que disputaria naquele ano de 1936 o primeiro torneio juvenil programado pela Federação Paulista de Futebol. Embora, tenha ficado na reserva do então goleiro titular Saul Eliezer, acabou sendo 1º. Campeão Paulista Juvenil. Logo em seguida, Saul desistiu e Neco ficou como titular até 1944. Ainda pelo Santos, embora titular absoluto do 2º quadro, chegou a ficar na reserva do lendário Cyro Portieri, algumas vezes.
Apaixonado que era pelo futebol dividia seu tempo jogando ora pelas escolas onde estudou - Colégio Santista e José Bonifácio, ora pelo futebol de praia no Olímpia e ainda pelo Clube dos Ingleses. Como era bom goleiro, acabou sendo convidado por seu amigo, Augusto da Silva Saraiva a defender a meta da Cia de Armazéns, dos Irmãos Varella, comandada por Manoel de Souza Varella, onde obviamente se empregou.
Pelo Colégio Santista jogou pouco, já que foi expulso da escola por um ato, que na verdade foi acidental. Segundo ele, estavam na sala de aula quando, pela primeira vez, sobrevoava a cidade um Zepelim, e ele, curioso por demais, dependurou-se na cortina para avistar o dirigível, quando esta despencou em cima do padre que administrava a aula, enrolando-o por completo. Como o dito padre era um chato de galocha, Neco não perdoou e deu um bico no traseiro dele. Motivo este que o obrigou a levar o “bico” de volta. Afinal, quem lucrou com a sua expulsão foi a Associação Instrutiva José Bonifácio que precisava de um goleiro para disputar o Campeonato Estadual Estudantil, onde acabou sendo tricampeão.
Acabou abandonando o futebol pelo mesmo motivo que outrora acontecia com muitos craques, pois não dava camisa a ninguém.
O gozado é que Saul tinha quase 2 metros de altura e o Neco com seus míseros 1,60m lembravam bem dois personagens de gibis da época: Mutt and Jeff. Segundo as más línguas, um aceitava por cima e o outro por baixo, tanto que o Salú brigou por um bom tempo junto a Fifa para mudar a regra do futebol e poder jogar com dois goleiros, pois só assim, com certeza, não tomaria gol nenhum.
Hoje, Neco freqüenta o Tênis Clube, onde foi um dos precursores da modalidade mini-tênis, e continua ainda dando canseira aos seus adversários. Na sinuca adora esnobar seus parceiros Armando Lopes, Paulo Novaes e Roberto Luiz Cauduro, dando sempre vantagens aos seus oponentes. Embora Armando “durma” em sua mesa de bilhar para correção da postura de sua coluna, Neco não perdoa.
E eu que me cuide da ira do Armando depois de ler esta matéria, já que trata-se de um excelente sinuqueiro. Quanto ao Cauduro, diz Neco, o duro não é vencê-lo, e sim sair ileso de seus reflexos de exorcismo após cada tacada. Já o Novaes nos obriga a usar tampões nas orelhas de tanto que fala.
Afora a brincadeira e a irreverência, rendo aqui as minhas sinceras homenagens a estes dois brilhantes atletas, Saul e Neco que, praticamente com a mesma idade, pois completam 90 anos neste 2009, são na verdade os únicos sobreviventes daquele time do Santos Futebol Clube campeão de 36. É com muito júbilo que repasso a eles toda a glória de autênticos campeões. |