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  23/06/2011 - Neymar se consolida como o maior santista depois da 'era Pelé'
 

O título da Taça Libertadores 2011 eleva Neymar ao posto de mais importante jogador do Santos desde a "era Pelé". Aos 19 anos, o garoto provou ser um fenômeno não só de marketing, mas um atleta fora de série. Foi o maior trunfo alvinegro durante a vitoriosa campanha do tricampeonato continental, com atuações magníficas. Marcou seis gols e terminou a competição como vice-artilheiro. Após triunfo sobre o Peñarol, levantou o troféu mais cobiçado da América, algo que o Peixe só havia conseguido com Pelé em campo.

O Santos está classificado para a disputa do Mundial de Clubes, em dezembro, no Japão. Vai tentar segurar Neymar para continuar sendo forte na luta pela terceira estrela em sua camisa. Seja, como for, o título da Libertadores, até o momento, marca o ponto alto de uma trajetória que começou há oito anos, quando Neymar, então um mirradinho menino de 12 anos, atravessou os portões da Vila Belmiro para começar a jogar futsal.

O garoto já “barbarizava” adversários nas areias da Praia do Itararé, em São Vicente, desde muito novo. Foi descoberto por Roberto Antônio dos Santos, o Betinho, que também havia garimpado Robinho. Primeiro levou o atual craque santista para jogar futsal no vicentino Clube de Regatas Tumiaru, maior rival do Beira-Mar, onde Robinho começou.

Depois de rodar alguns times de salão da Baixada Santista, Neymar foi para o Santos em 2003. Logo caiu nas graças de Zito, capitão do time de Pelé e que depois passou a atuar como gerente de futebol santista. Aos poucos, Neymar foi trocando as quadras pelo campo. Vendo que tinha uma joia nas mãos - as semelhanças com Robinho saltavam aos olhos - o clube passou a cercar o menino de cuidados.

Com apenas 14 anos, em 2004, ele já ganhava um salário de R$ 3 mil. Suas atuações pelo time infantil do Peixe chamavam atenção. Todos queriam saber quem era o “novo Robinho”. Era assim que Neymar era tratado no início: como o sucessor natural do Rei das Pedaladas. Em 2007, o craque passou a ser representado pelo empresário Wagner Ribeiro. No mesmo ano, visitou, a convite de Robinho e de Ribeiro, o Real Madrid. Um início de namoro começou ali. O clube merengue já havia observado a performance do menino e quis levá-lo naquele momento para acabar de formá-lo. O Real queria seu próprio Messi.

O assédio fez o Peixe se mexer. No mesmo ano, multiplicou o salário do garoto, que passou a ganhar R$ 30 mil. Ainda não era um profissional, mas ganhava como jogador de elenco principal. Em 2008, Neymar começou a treinar no time de juniores. Era bem menor que os companheiros, mas chamava muita atenção. Em seu primeiro jogo na Copa São Paulo, entrou no segundo tempo e marcou. Tinha 16 anos.

Entre os profissionais

Em 2009, com 17 anos, Neymar chegava, com pompa e circunstância, ao time de cima. Com contrato de gente grande: vínculo de cinco anos, salários de R$ 90 mil e multa rescisória de € 30 milhões (R$ 68,8 milhões em valores atuais). Agora era chegada a hora de o menino mostrar que valia todo o investimento. Houve quem achasse que tudo não passava de fogo de palha, que Neymar sucumbiria à pressão.

Ele aguentou firme. Fez sua estreia como profissional no dia 7 de março de 2009, entrando no decorrer da partida contra o Oeste, no Pacaembu, pelo Paulistão. Ele deu dribles, levantou a torcida e foi ovacionado pela primeira vez em sua carreira. Na semana seguinte, dia 15 de março, novamente no Pacaembu, na vitória por 3 a 0 sobre o Mogi Mirim, pelo estadual, marcou o primeiro de seus 67 gols pelo Peixe. Comemorou socando o ar, como Pelé. Nascia um ídolo.

Graças aos ótimos desempenhos de Neymar e de seu amigo Paulo Henrique Ganso, o Santos chegou à final do Paulistão daquele ano. Os Meninos da Vila, porém, não estava prontos ainda. Acabaram não conseguindo superar o Corinthians, de Ronaldo. Mas a semente estava plantada.

Filé de borboleta

O decorrer do ano de 2009 para Neymar foi de altos e baixos. O time foi muito mal no Brasileirão. Lutou para não ser rebaixado. Em agosto, a diretoria fez uma contratação de emergência. Trouxe Vanderlei Luxemburgo, que já havia levado o Peixe às conquistas de dois Campeonatos Paulistas e um rasileiro, para tentar recuperar o time. Uma das medidas do treinador foi tirar Neymar da equipe.

Luxa dizia que o garoto, apesar de talentoso, era muito magro. Não tinha força para as divididas. Dizia que Neymar era um “filé de borboleta”. O Santos acatou a decisão do técnico. O processo de fortalecimento de Neymar foi acelerado. Hoje, o garoto tem quatro centímetros a mais do que tinha em 2009 - passou de 1,70m para 1m74m. E ganhou 11 quilos de massa muscular: um salto de 53 kg para 64 kg.

2010: o ano da afirmação

Na virada do ano, mudanças no clube. Marcelo Teixeira deixou a presidência após cinco mandatos consecutivos. Foi vencido nas eleições por Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro. Ele contratou o técnico Dorival Junior, que percebeu de cara o potencial dos garotos e passou a montar o time em torno de Neymar e Ganso. Na mosca.

Ao redor dos dois craques e com a contratação de Robinho, que estava em baixa na Europa, Dorival montou um time irresistível. Já como titular, o camisa 11 reformou seu contrato. Passou a ganhar R$ 160 mil e sua multa pulou para € 35 milhões. Com muitos gols, danças, brincadeiras e dois títulos: o Paulistão e a Copa do Brasil. Neymar comandava os Meninos da Vila e virava referência. Houve até uma campanha nacional por sua convocação, junto com a de Ganso, para a Copa do Mundo de 2010. O técnico Dunga ignorou o clamor popular.

Em agosto, um lance decisivo na carreira do craque: o Chelsea veio ao Brasil disposto a levá-lo para Londres. Os ingleses achavam que seria uma barbada: acertariam salários com o jogador, pagariam a multa e pronto. Não conseguiram. A diretoria santista convenceu o atleta a ficar. Foram angariadas empresas que, em troca da imagem do garoto, ajudariam o clube a lhe pagar um salário de nível europeu. O Chelsea voltou de mãos abanando e Neymar passou a ser um dos jogadores mais bem pagos do futebol brasileiro (atualmente, ganha cerca de R$ 600 mil mensais). Sua multa rescisória também aumentou: € 45 milhões (R$ 102,4 milhões).

Nem tudo, porém, foi tranquilidade, títulos e alegria para Neymar no ano passado. Ele também mostrou um lado rebelde, que desgastou sua imagem. Em outubro, durante partida contra o Atlético-GO, na Vila Belmiro, pelo Brasileirão, ele teve uma crise de estrelismo em campo ao ser impedido por Dorival Júnior de bater um pênalti.

Xingou o técnico dentro de campo e teve sua insubordinação flagrada por inúmeras câmeras. Foi chamado de “monstro” por René Simões, que comandava o Atlético e viu tudo de perto. De repente, o bom menino se transformava num “bad boy”. Para piorar, a diretoria santista demitiu Dorival Júnior, que tentou forçar uma punição maior ao craque. Entre sua joia e o técnico, a diretoria ficou com quem dá retorno técnico e financeiro, naturalmente.

Neymar virou alvo de piadas na internet. Garoto mimado, superprotegido, que não conhece limites, insubordinado. Os marqueteiros do Peixe tiveram de se desdobrar para tentar salvar o patrimônio. Mas o craque fez sua parte jogando bola. Aos poucos, a polêmica foi ficando para trás.

2011: o menino vira homem

Enfim, 2011 começou com o Santos classificado na Taça Libertadores. Neymar voando em campo, jogando muito bem. Logo de cara, mais um título estadual e em cima do Corinthians, o maior rival, com um gol do astro na decisão. Tudo ia muito bem para o prodígio santista até que veio o baque: a notícia de que uma ex-namorada, menor de idade, estava grávida.

Ele foi comunicado antes da viagem para o México, onde o Peixe eliminou o América-MEX. Inicialmente, o jogador ficou assustado. Mas assumiu a bronca. De menino, se tornará pai de um garoto. Mateus é esperado para novembro. Com uma responsabilidade dessas, só resta a Neymar jogar mais e muito.

Tudo bem. É o que ele mais curte fazer

Fonte: Globo Esporte
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