Lalá, ex goleiro do Santos F.C., já tinha encerrado a carreira de futebolista, e como professor de educação física formado, trabalhava na Portuguesa Santista. Uma equipe muito simpática e lutadora, porém considerada pequena e cujo objetivo principal era escapar às últimas colocações.
O jogo decisivo e que afastaria a Lusa Santista definitivamente das possibilidades do amargo rebaixamento seria contra o Nacional A.C. da capital; um simples empate resolveria tudo. Jogo no estádio Ulrico Mursa em Santos.
O nervosismo era geral. O zero a zero era mantido a todo custo. Lalá, sentado ao lado do técnico Clóvis, olhos esbugalhados, acompanhava do banco (a cadeira elétrica dos treinadores) todos os movimentos da partida. A noite era quente, e todos suavam em bicas.
Os berros do Lalá e do Clóvis eram ouvidos a distancia, pois o público era reduzido. Para eles, porém, homens responsáveis, o jogo valia tanto como uma decisão de mundial.
Quarenta minutos do segundo tempo. A Portuguesa no ataque, bombardeio, a bola não entra por um milagre, pois o central do Nacional debaixo da trave, com um chutão imenso, salva o gol e inicia um terrível contra-ataque. A Portuguesa desguarnecida, toda aberta atrás.
O ponta direita do Nacional, o mulato Lucas, era um corisco. Dominou a bola e iniciou um “rush” fatal para a meta, onde o negro arqueiro Luso Edilson reclamava da marcação falha.
E lá ia o Lucas sozinho para marcar o gol do Nacional e mandar a Lusa para a segunda divisão. Ninguém para lhe dar combate. Desespero total dos portugueses da baixada. Súbito, na passagem de Lucas pelo banco da Portuguesa, alguém sai correndo atrás dele. A perseguição foi rápida. Lucas percebeu e tentou fugir em vão.
Lalá, com um bote tigrino e certeiro, caiu estatelado no careca gramado da Lusa, tendo sobre si a presa visada: Lucas! Muito bem agarradinho com uma forte chave de braços, Lucas tentava em vão se soltar, para fazer o gol.
Uma bola no chão sem maiores problemas, com o Lalá sendo expulso da cancha, mas o mais importante, o 0 a 0 fora garantido. Missão cumprida.
Upa-Neguinho, o massagista Luso, mais parecido com um saci, após o jogo, tacava mercúrio cromo nos cotovelos ralados do Lalá.
Este soprava orgulhoso o heróico ferimento.
(extraído do livro "Bombas de Alegria")
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