– O respeito vai existir dentro de campo. As pessoas sabem o que eu fiz nesses anos lá fora. Mas, quando você entra em campo, cada um defende o seu time. Mas o respeito tem de ter – afirma o volante, que será titular e capitão do time mais uma vez.
A comparação com a trajetória de Ronaldo até a memorável atuação na Vila Belmiro, quando marcou dois gols, no primeiro jogo da decisão do Estadual, é inevitável. Emerson teve de conviver em sua chegada com a perseguição de fotógrafos, famintos por uma imagem de seus quilinhos a mais. E até com as notícias sobre sua vida pessoal.
Vencida a desconfiança, Emerson já ganhou até a tarja de capitão do Peixe. E aposta que com um pouquinho mais de malícia, o time vai atingir voos mais altos no Nacional.
– É um time muito jovem, mas que já fez ótimos jogos e é capaz de proporcionar espetáculos para a torcida. Acho que está faltando alguma coisinha, detalhezinhos e um pouco de experiência. O time precisa de mais malícia em certas situações – analisa o meio-de-campo
Em seu primeiro clássico desde que voltou ao país, Emerson quer manter o retrospecto em grandes jogos que, segundo ele, é excelente:
– Sempre venci mais do que perdi. Espero manter aqui no clube (risos).
Ronaldo foi a referência para o time corintiano nos dois clássicos decisivos contra o Peixe pelo Paulistão. Hoje à noite, com Emerson, os santistas contam com alguém que pode fazer os corintianos terem o troco: líder, capitão e a referência!
Confira a entrevista exclusiva com Emerson na íntegra:
L!: Você acha que por tudo que viveu na carreira, pode ser considerado a grande referência para o clássico desta quarta-feira?
Eu não me importo muito em ser referência, mas com a importância que esse jogo terá para nós. Estou dando mais importância aos nossos objetivos. Ganhando esse jogo, damos um ótimo passo. Sei que os torcedores do Santos dão muita importância para esse jogo. Sei das minhas responsabilidades, o time também sabe e vem crescendo. Prefito até ser mais referência para meus companheiros, como sempre foi uma característica minha.
L!: Eu fiz a primeira pergunta baseado no que aconteceu na decisão do Paulistão. O Ronaldo teve duas exibições fantásticas e os jogadores do Santos tiveram de ouvir que respeitaram demais ele. Você acha que pode acontecer isso da parte dos corintianos? Pode fazer a diferença?
Acredito que o respeito existe no sentido de você saber contra quem você está jogando, o caráter dessa pessoa. Você fica muito tempo lá fora e mudam muito os atletas aqui no Brasil. Alguns nem conseguiram me ver jogando no Brasil. Aqui no país há times com média de idade muito baixas. Quando iniciei no Grêmio muitos nem sonhavam em jogar futebol. O respeito vai existir dentro de campo. As pessoas sabem o que eu fiz nesses anos lá fora. Mas, quando você entra em campo, cada um defende o seu time. Mas o respeito tem de ter.
L!: Como amigo você até gostaria que o Ronaldo estivesse em campo, mas como adversário é melhor deixá-lo quieto no canto dele, não é mesmo?
É verdade. Como rival, melhor não. Principalmente nos últimos meses, né? O Ronaldo com certeza é fundamental para a equipe do Corinthians, pela experiência e qualidade que ele tem. Naquela final, não foi só o Ronaldo, mas também outros jogadores. Sempre tive uma amizade muito boa com ele, de muito respeito por tudo o que ele já fez. Bom que ele não vai jogar. Mas se tivesse do meu lado, com certeza gostaria que ele estivesse em campo.
L!: No futebol, dizem que o atleta precisa sentir a rivalidade entre os times para disputar um clássico. Como você tem se preparado para esse jogo?
Na verdade, toda rivalidade é boa quando é sadia. As pessoas tem me parado na rua e falado sobre a importância do jogo, pedindo uma vitória. Um clima bem diferente do jogo contra o Fluminense. Sentimos um pouco. Não o jogo, mas importância que ele vai ter. Não é apenas por ser um clássico, mas estamos numa situação em que precisamos vencer o jogo. Depois, teremos tempo para trabalhar e arrumar a equipe novamente.
L!: Disputar clássico na Europa é muito diferente de disputar clássico aqui no Brasil? Muda alguma coisa dentro de campo?
Lá fora, fiquei 12 anos disputando clássicos. Joguei Roma e Lazio, Real Madrid e Barcelona. No caso específico de Santos e Corinthians, percebo que é bem sentido aqui, mais até por parte dos santista do que pelos corintianos. Eu acho que independentemente de ser lá ou aqui, clássico sempre é sentido da mesma forma. O clássico é sempre o jogo mais importante em qualquer lugar.
L!: Como foi seu saldo disputando esses jogos lá fora? Se não me engano, pelo Grêmio você chegou a enfrentar o Internacional algumas vezes...
Participei de vários clássicos e sempre tive a felicidade de vencer a maioria. Espero continuar com esse bom aproveitamento. Pelo Grêmio, me lembro de ter perdido o último, apesar de ter vencido vários também. Mas me recordo mais do último, antes de eu ir para a Alemanha, que eu perdi.
L!: O quanto você sentiu de evolução no seu futebol do jogo de estreia, contra o Goiás, para o jogo de domingo, contra o Fluminense?
Contra o Goiás, tive a infelicidade de entrar em campo bem na hora que caiu uma água. Havia anos e anos que não chovia daquele jeito. Caiu uma água impressionante. A grama do Serra Dourada é alta e o campo já é pesado. Senti muito. Naquele momento, você não consegue mais jogar. A bola para, o campo não ajuda, e por isso senti demais. Porém, tive uma evolução muito boa no jogo seguinte (Fluminense). Tive tempo para trabalhar. Havia a programação de que eu atuasse contra o Inter, mas não deu certo no decorrer do jogo. O professor tinha outras opções e precisávamos empatar o jogo. Eu achei correta a opção dele. Tive mais tempo para aprimorar a parte física e treinar com o time. Só fiz um coletivo com a equipe. Contra o Fluminense, a ideia era essa, de jogar apenas um tempo. Isso foi conversado com o Vanderlei. No intervalo, eu estava cansado, sim. Ele achou melhor me tirar e colocar um jogador que estava melhor.
L!: Você voltou ao Brasil preparado para ser questionado sobre sua forma física e sobre o seu peso? Chegou a te indomodar a forma com que foi noticiado seus quilinhos a mais? Os fotógrafos ficavam loucos para pegar você sem camisa...
Quando eu cheguei, já sabia que enfrentaria isso. Quando me perguntavam eu sempre era sincero falando sobre o tempo que eu estava parado. Não escondi de ninguém que passei dois meses de férias sem fazer nada. Eu aceitei vir com o propósito de recuperar a forma o mais rápido possível. Poucas pessoas perdem 8kg em 25 dias. Eu estava mesmo com vontade de chegar na forma física ideal. Não me incomoda falarem, pois estão falando a realidade. Quando o que falam é verdade, você não tem motivos para se incomodar. Eu estava acima do peso. Sou uma pessoa pública e isso (tirar foto) faz parte. Não me incomodou, não. Até me deu mais força para que eu perdesse peso o mais rápido possível. Até eu me surpreendi com a diferença para hoje quando olhei duas fotos comparando. Uma informação quando é real não há porque você se incomodar. Eu dei muita sorte que quando cheguei ao Santos estava muito frio (risos) aí eu estava sempre de blusa. Mas bateram muitas fotos igual ao que fizeram com o Ronaldo (risos). Consegui voltar ao peso ideal no tempo previsto na programação.
L!: Como foi receber a tarja de capitão logo em sua estreia como titular? O que o Vanderlei conversou com você antes de te dar a função?
Na verdade eu não sabia. Não foi conversado nada sobre eu ser capitão. No vestiário, só procurei olhar o número da minha camisa na relação. Eu não sabia desse detalhe. Quem me deu a faixa, inclusive, foi o roupeiro, um pouco antes de irmos a campo. O professor Vanderlei não me passou nada, mas é uma coisa natural. Óbvio que foi ele quem decidiu. Não foi uma coisa conversada comigo de forma antecipada. Eu achei muito legal, uma responsabilidade a mais. E além disso também foi uma valorização. Não daquilo que posso fazer em campo, mas da minha pessoa. Eu não esperava, mas fiquei feliz. Também não é uma coisa que me incomoda, de repente, amanhã não ser mais o capitão, ou de continuar sendo. Eu não dei importância. Líder não é só líder quando tem a faixa.
L!: Sobre o episódio em que você foi visto em uma casa noturna de Santos: em algum momento passou pela sua cabeça deixar o clube? Acha que houve exagero na cobertura? O que mais te incomodou?
Não pensei em cair fora, não. Meu pensamento sempre foi de chegar e continuar jogando futebol. Eu estava comentando recentemente que somos pessoas públicas, e pessoas públicas passam por boatos, mentiras e verdades. O que mais me incomoda é saber que estou indo para o fim da minha carreira e que não preciso mais provar nada, a não ser dentro de campo. Eu não tenho mais 20 anos, e sim 33. Ninguém me conhece fora de campo. Eu nunca tive esse tipo de problema fora do país. Quando me falavam que eu estava na Seleção e era criticado no Brasil, mas que o pessoal da Europa adorava meu futebol, isso me chateava. Quando alguém vai para fora, está representando o país. A nossa conduta lá fora é importante para abrir portas para os jovens. Quando os que estão lá se comportam de forma errada, eles falam que não vão mais contratar brasileiros. Quando você tem uma conduta boa fora de campo as pessoas começam a acreditar que brasileiro não é só samba e jogo bonito, mas que tem responsabilidade e competência. Quando aconteceu esse episódio, me incomodei por nunca ter passado isso fora do meu país. Vão dizer que sou um cara que vive bebendo? Estão falando da pessoa errada. Durante os dez anos na Seleção e 12 fora do país não ouvi isso, e não vai ser agora que vai acontecer. Acho que já ficou bem claro tudo isso, e eu não sei de onde saiu. É um caso superado. Eu não me importo muito, não. Na Itália, o pessoal coloca garrafas de vinho na mesa um dia antes do jogo e você pode tomar um copo. Na Alemanha, você pode tomar cerveja um dia antes do jogo. São coisas que você se acostuma. Esse profissionalismo não vai acabar.
L!: Você foi contratado e indicado por Vanderlei Luxemburgo. Acha que isso pode ter influenciado pessoas que não gostam dele a criticar seu comportamento e condenar sua contratação?
Estou chegando agora e não sei. De repente, você pode saber melhor do que eu. Não quero imaginar, mas sei que no futebol muita coisa existe. Cheguei no clube para ajudar e para fazer parte dele. Vim com a indicação e confiança do Vanderlei. Se isso incomodou? Não posso dizer. Não vim para tirar o espaço de ninguém. Posso ser útil e ajudar. Se isso incomoda, não cabe a mim. Espero que não tenha nada disso. O pessoal aos poucos vai me conhecendo e tenho certeza de que não terão mais nenhuma dúvida sobre a minha pessoa.
L!: O que falta ao time do Santos para entrar de vez na briga por uma vaga na Libertadores do ano que vem?
É um time muito jovem, mas que já fez ótimos jogos e é capaz de proporcionar espetáculos para a torcida. O jogo contra o Inter foi um exemplo. É um time que joga para frente. Acho que está faltando alguma coisinha, detalhezinhos e um pouco de experiência. O time precisa de mais malícia em certas situações dos jogos. É um time muito jovem, inexperiente e toma gols por conta disso. O time joga bem o futebol, tem jogadores e qualidade. É uma equipe que acredito que ainda vá crescer muito na competição.
L!: Contra o Fluminense, o Luxemburgo inovou e não deu palestra. Ele disse ter deixado vocês sozinhos, para uma reunião do grupo. Como foi isso? Acabou dando certo...
Para mim, conhecendo o Vanderlei, foi uma novidade. Acho que ele tem algumas qualidades e isso é dele mesmo. Ele consegue em certas situações motivar muito o time, até fazendo esse tipo de coisa. Ele chegou e fez uma brincadeira ou outra e perguntou: "Como vocês estão? Estão bem? Então vamos para o jogo". Foi uma coisa bem direta. O recado que ele deu foi esse. Não tinha mais o que falar. Até eu fiquei surpreso e mexeu muito comigo. São tantos anos de experiência e isso realmente mexeu comigo. Deu certo. Você vê o primeiro tempo que o Santos fez, começou em cima... a equipe recebeu aquele recado sem ele ter feito uma palestra. Ele passou a motivação confiando nos atletas.
Fonte: Lancenet |