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  14/12/2010 - Para Pepe e Coutinho, Taça Brasil já valia como Campeonato Brasileiro
 

O dono de uma das bombas de pé esquerdo mais temidas do Brasil e aquele considerado quase a alma gêmea de Pelé nos gramados tiveram a mesma reação. Pepe e Coutinho, bicampeões da Libertadores e mundiais pelo Santos e pela Seleção Brasileira, nem mostraram tanta euforia com a quase certa decisão da CBF de unificar os títulos das Taças Brasil e de Prata (essas últimas conhecidas também como Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão) com os do já conhecido Campeonato Brasileiro, criado desde 1971. Afinal, valiam mesmo para eles e os demais jogadores a opinião pessoal de cada um que deu o suor pelas conquistas.

O Santos ganhou a Taça Brasil em 1961-62-63-64-65. Depois, faturou o Roberto Gomes Pedrosa em 1968. Os seis títulos, somados aos de 2002 e 2004, tornarão o clube oficialmente octacampeão brasileiro ao lado do Palmeiras - os dois tiram a hegemonia de Flamengo e São Paulo, que têm seis títulos cada um. Além disso, Pelé entra no rol dos jogadores com mais Brasileiros conquistados (seis), superando Andrade e Zinho, que têm cinco conquistas.

- Nós, jogadores, já nos sentíamos campeões brasileiros. Vai ser bom é para o Santos, que terá isso oficializado. De qualquer forma. é bom ter esse reconhecimento. Afinal, a Taça Brasil e o Robertão eram Campeonatos Brasileiros. Tanto que esses títulos nos levaram ao bicampeonato da Libertadores e do Mundial de Clubes - afirmou José Macia, o Pepe.

Coutinho, que de tanto tabelar com Pelé na área era confundido muitas vezes com o Rei do Futebol, mostrou entrosamento perfeito com Pepe também fora dos gramados.

- Nós nunca tivemos dúvidas de que éramos campeões brasileiros. Independentemente do nome da competição, era Campeonato Brasileiro. Conquistamos o direito de disputar a Taça Libertadores ganhando esses títulos. Então, nada mais justo o reconhecimento. Acho que é um prêmio para toda aquela geração.

Pepe tem muita história para contar. Foram tantos jogos e tantos títulos que o eterno ídolo santista anotou tudo ali, num caderninho que pode ser considerado um tesouro do futebol brasileiro. Os melhores momentos do maior time de todos os tempos estão ali anotados. E, apesar de a Libertadores e o Mundial trazerem as melhores lembranças, a Taça Brasil tem seu espaço considerável. Principalmente pelos grandes duelos com outros timaços brasileiros, principalmente o Botafogo de Garrincha, Didi e Nilton Santos e o Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes e Raul.

- Os jogos contra o Botafogo eram sensacionais. Quando o Santos o enfrentava, o campo ficava com 12, 13 jogadores da Seleção Brasileira. Pô, o ataque deles era Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Atrás, tinha o Manga, um goleiraço, e o Nilton Santos... Todos craques. Mas nosso time era melhor, por isso ganhamos tudo. Eles tinham o Garrincha, que dava muita dor de cabeça, sem dúvida. Mas o Pelé era nosso.

Os números comprovam o raciocínio de Pepe. O confronto direto com o mais poderoso rival em decisões foi na edição da Taça Brasil de 1962, ano em que os clubes formaram a base da Seleção Brasileira bicampeã mundial no Chile.

Curioso é que as partidas só foram realizadas em  março e abril de 1963. Na primeira, no Pacaembu, o Santos venceu por 4 a 3. Quarentinha abriu o placar para o Botafogo. O Santos fez 3 a 1 com Pepe, Coutinho e Dorval. Amoroso diminuiu para o Alvinegro carioca. Pepe marcou o quarto do Peixe, mas Amarildo, a um minuto do fim, diminuiu para o Glorioso.

Depois, no Rio, o Botafogo venceu o Santos por 3 a 1. Édson, Quarentinha e Amarildo fizeram 3 a 0, e o Santos só diminuiu no fim, com gol contra de Rildo. Mas na terceira partida, também no Maracanã, o Santos sagrou-se campeão com uma goleada de 5 a 0, com gols de Pelé (2), Dorval, Coutinho e Pepe, que não esqueceu o seu.

- Nem sei o motivo, mas naquela jogada eu estava pelo lado direito, o que era raríssimo na época. Ponta-esquerda dificilmente saía do setor. Após a cobrança de um lateral, dominei na altura da intermediária. Vi o Manga distraído e resolvi bater. Não deu pra ele. Foi por baixo, mas com violência. O Manguinha era um grande goleiro e tinha pavor dos meus chutes. Reclamava que, em cobrança de falta, pedia barreira de quatro e botavam três. "Só o Nilton Santos me entendia", dizia... - afirmou Pepe, às gargalhadas.

No ano anterior, o Santos conquistara o primeiro título diante do Bahia, primeiro campeão da competição, em 1959. No primeiro jogo, empate por 1 a 1 na Fonte Nova. Depois, passeio santista por 5 a 1, com três gols de Pelé e dois de Coutinho - Florisvaldo descontou para o Tricolor baiano, vítima também na decisão da Taça Brasil de 1963. Com os 6 a 0 no Pacaembu e os 2 a 0 na Fonte Nova, em novo show de Pelé & Cia, o time foi tricampeão.

Nos anos seguintes, Flamengo e Vasco não resistiram ao time dos sonhos. O Rubro-Negro perdeu o primeiro jogo por 4 a 1 e depois até ficou no empate por 0 a 0, no Maracanã. O pentacampeonato em cima do time cruzmaltino surgiu com goleada por 5 a 1 em São Paulo e vitória por 1 a 0 no Maracanã.

- Foi gol do Pelé, me lembro bem. Os times de Vasco e Flamengo na época não chegaram a ser marcantes. O Flamengo tinha o Evaristo, craque mas já em fim de carreira, e o Carlinhos, outro grande jogador. Meu marcador foi o bom Murilo, muito leal e raçudo. No Vasco, jogava um atacante que era santista, o Célio. Elle queria comer a bola contra a gente, porque não teve a chance de ser contratado, foi direto do Jabaquara para São Januário - afirmou Pepe.

A supremacia santista acabou em 1966, quando certos garotos de Minas coloriram o Brasil de azul. Tostão, Dirceu Lopes, Natal e Piazza comandaram o Cruzeiro, que tinha como goleiro o então jovem Raul. O time não tomou conhecimento dos rivais medalhões do Peixe. Na primeira partida, no Mineirão, sapecou 5 a 0 no primeiro tempo. O placar terminou 6 a 2. Na segunda partida, em São Paulo, o Santos bem que fez 2 a 0 no primeiro tempo, com Pelé e Toninho. Mas Tostão, Dirceu Lopes e Natal viraram a partida para 3 a 2.

- Nosso time já estava mais velho. Eu não era mais titular. O Edu estava surgindo, era um excelente ponta, driblador. O Toninho Guerreiro, centroavante, jogou até deslocado na ponta direita. Mas o fato é que não conhecíamos direito a garotada do Cruzeiro. Na época, não tinha essa quantidade de informações que existem hoje dos adversários. Fomos surpreendidos - afirmou Pepe, que em 1968 viu o Santos conquistar o hexa, mas já com mescla de gerações - Edu e Clodoaldo tornaram-se tricampeões mundiais pela Seleção em 1970.

Fonte: Globo Esporte

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